quinta-feira, 9 de agosto de 2007

CRACK - Corpo encontrado no rio foi identificado, rapaz também era usuário de drogas

Para a Polícia, apesar da inexistência de marcas de violência, duas vítimas inauguram nova forma de execução em Araranguá

Araranguá – O corpo de Ejoelte Plácido da Silva, o Gaspar, 41 anos, foi identificado pela família ontem pela manhã, no IML de Araranguá. Ele foi encontrado na tarde desta terça-feira, 07, boiando no rio Araranguá, próximo à ponte da Barranca. Assim como Fabrício Penna Rocha, 29, também encontrado no Rio, no domingo, Gaspar era usuário de drogas e teve várias passagens pela Polícia. Apesar da perícia apontar que nenhum dos corpos teria marcas de violência ou perfurações de bala, a Polícia quer saber as circunstâncias dos dois afogamentos, já que são muitas as coincidências: “Parece que inauguraram uma nova forma de execução em Araranguá”, disse o Delegado Jorge Giraldi, que coordena as investigações.

Segundo o delegado, além das semelhanças nas duas vítimas – ambos eram usuários de crack, estavam desempregados e possivelmente possuíam dívidas com o tráfico – é muito improvável que as mortes tenham ocorrido porque os dois teriam tido simultaneamente a idéia de ir ao rio: “Primeiro, porque é inverno, e segundo, porque por mais que se pense na possibilidade de suicídio, é muito improvável que os dois tenham realizado o ato no mesmo momento”, disse, confirmando a versão de que os corpos teriam morrido no mesmo espaço de tempo. Apesar disso, a Polícia não pode afirmar que as mortes tenham sido induzidas: “Precisamos investigar”, disse o delegado.

BIBLIOTECA – Há pelo menos 15 anos, Gaspar é conhecido da Polícia, com diversas passagens por furto, receptação e uso de drogas. Há cerca de dois meses, ele foi preso em flagrante após ter furtado a biblioteca pública municipal Luiz Delfino, na Praça Hercílio Luz, local onde ele costumava passar os dias e as noites, sempre em companhia de menores de idade.

A notícia da morte dele surpreendeu a bibliotecária Fabiana Daniel, que confirma o furto, dizendo que o rapaz teria levado uma impressora, microfone, caixas de som, rádio relógio, controle da TV: “Ele não levou a TV porque não deu tempo, e contou com a ajuda de alguém, que escondeu os produtos do roubo num mato aqui perto”, diz a bibliotecária. Ela confirma que muitas vezes viu o homem na praça: “Estava sempre aqui, com os menores”, disse.

Uma outra testemunha, que não quis se identificar, disse que Gaspar costumava aliciar menores para o tráfico de drogas. Ela contou que há cerca de uma semana, o homem teria dito para ela e uma amiga que esperava receber um dinheiro, já que tinha dívidas a pagar. A testemunha não confirmou que as dívidas eram de drogas: “Isso ele não disse, mas a gente acredita que seja, já que ele estava sempre alcoolizado e era conhecido por todos como usuário”, disse. Pintor e construtor, o vício não permitia que o “Guri” - como alguns o chamavam pelo hábito de andar com menores – conseguisse trabalho.

Corpo fechado – Outra testemunha contou que na última vez que ele foi preso, dizia que não ficaria detido muito tempo. Parente de policiais, ele achava que tinha o corpo fechado: “Costumava dizer que não tinha medo, porque era amigo de muitos policiais, e que a Polícia tinha medo dele”. De uma forma ou de outra, acabou perdendo para o vício.

A reportagem do Jornal Correio do Sul procurou também por amigos e parentes do morto, mas ninguém foi encontrado. Ele teria sido casado, e tinha uma filha, mas estava separado há muito tempo, e a Polícia não sabe o paradeiro da ex mulher. Também não foi possível encontrar a casa onde morava, já que ele mudava constantemente de endereço. A última residência teria sido no Balneário Arroio do Silva, mas há algum tempo ele não vivia mais lá.


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