quinta-feira, 9 de agosto de 2007

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - Duas mulheres, duas histórias de perdão e arrependimento

Maria Aparecida Fagundes e V.C.J perdoaram os ex maridos violentos, e voltaram a ser vítimas de agressão

Araranguá – “A Lei Maria da Penha veio para ajudar a resolver o problema da violência doméstica, mas as vítimas também têm que fazer a sua parte”. A afirmação é do coordenador da Central de Polícia, Delegado Jorge Giraldi, que diz observar que a maioria das vítimas acabam reatando o relacionamento com os agressores, o que geralmente resulta em novas agressões. Há um ano da implantação da nova Lei , o número der denúncias aumentaram, assim como também a reincidência e desobediência às medidas protetivas de urgência impostas pela Justiça.

Exemplos não faltam: ontem, dois casos foram parar na Delegacia, resultando em duas prisões por violência doméstica. Em ambos os casos, os agressores eram reincidentes, e desrespeitaram as Medidas Protetivas impostas pelo juiz, com a colaboração das mulheres, que aceitaram os agressores de volta para casa.

AMEAÇA DE MORTE – Na madrugada de ontem, a auxiliar de ensino VCJ, 24, passou por maus bocados nas mãos do ex marido, o professor Jéferson Josefino Peres, 27, de quem estava separada há cerca de dois meses. Ela teria vivido com o pai das duas filhas – de seis e quatro anos – por sete anos, e em função da violência doméstica, acabou se separando em 2005. Depois de sete meses de separação – tempo suficiente para a moça comprar um automóvel – eles voltaram, e acabaram se separando de novo, também por causa da violência. Nas Medidas Protetivas, o homem teve que sair de casa e foi proibido de se aproximar dela em 500 metros. Mesmo assim, ela cedeu o veículo para ele, além de não ter retirado a chave da casa das mãos do ex.

Na madrugada de ontem, após voltar de um jantar, perto das 2h30min, a mulher percebeu que o homem andava circulando na vizinhança, no bairro Lagoão. Ao entrar em casa, ela percebeu que os objetos estavam fora do lugar, e que da bolsa, que estava no guarda-roupa, foram retirados R$ 20 e documentos pessoais. Ficou possessa e ligou para o ex. Ele foi até a casa dela, e ali inferno da mulher começou.

Eram cerca de 03h30min, quando o casal começou a discutir. Dentro da casa, o homem ameaçou a mulher de morte, e dizia que também iria se matar. Com ciúmes, queria saber onde ela estava, com quem, e como voltou para casa. Também quebrou o aparelho celular da mulher, a obrigou a ficar só de calcinha, mas não tentou forçar a relação sexual. A mulher tem marcas de mordidas espalhadas pelo corpo, e diz que ele tentou asfixia-la com um travesseiro por várias vezes. Enciumado, ele espalhou álcool pelas cortinas e cômodos da residência, dizendo que ia mata-la e morrer junto com ela. Ele se preparava para riscar o fósforo, quando ela conseguiu fugir por uma janela, mas o agressor correu em seu encalço, e acabou trazendo-a para dentro de casa Na fuga, a mulher conseguiu gritar por socorro, e os vizinhos chamaram a Polícia, que teve muito trabalho para convencer o rapaz, que ameaçava cortar o pescoço da mulher com uma faca. A Polícia teve que arrombar a porta para prender o homem violento. Na Central de Polícia, ele dizia que não tinha feito nada, e acabou fugindo. A Polícia encontrou o homem no forro da casa da ex, reconduzindo a Central de Polícia, para onde foi encaminhado ao Presídio Regional de Araranguá.

CORTADO EM PEDAÇOS – Para a mulher que conviveu por seis anos com o catador de papel Tiago da Rocha Rocha, 22, a moradora da Divinéia Maria Aparecida Fagundes, 30, esta é apenas mais uma história triste na vida difícil: “Meu coração ta cortado em pedaços”, lamenta.


Cida diz que tem o coração em pedaços, e que desta vez, não volta mais para o marido


Na visão do delegado, a permanência no convívio com o agressor é um problema crônico. Para ele, a vítima de violência não deve acreditar nas palavras de perdão e promessas de mudanças dos agressores, já que a prática mostra uma realidade muito diferente: “A recaída acontece na maioria das vezes, quando a primeira recaída, a primeira fofoca, são suficientes para que a agressão ocorra novamente. A decisão precisa ser radical”, finaliza.

Ela estava na cozinha da casa na manhã de ontem, quando o marido disse alguma coisa e ela respondeu com irritação. Como resposta, ele começou a ameaçar a mulher de morte, até jogar um copo na direção dela, acertando na orelha direita, provocando um corte profundo. Antes mesmo de ir ao hospital para fazer um curativo, ela se dirigiu a Central de Polícia, para registrar a ocorrência. O caminho é velho conhecido.

Nada disso teria que acontecer: em dezembro do ano passado, Cida, como é conhecida, cansada das violências do marido, procurou a Delegacia. O resultado foi uma série de medidas protetivas, que segundo a mulher, o homem nunca cumpriu: “Ele se enfiou em casa com ameaça, dizia que ia me matar, eu e o meu pai”. A mulher mora na casa com o filho e o pai de 63 anos, que tem paralisia no lado esquerdo do corpo, ocasionada por um AVC – Acidente Vascular Cerebral. Dentro de casa, o homem continuava a ameaçar, mas não batia mais na mulher, até ontem.

A mulher diz que ela e o pai são como reféns na casa onde vivem: além dos problemas com o marido, Cida convive também com as ações do filho, o menor AF, 13, conhecido da Polícia pela prática de furtos na cidade. Apesar dos flagrantes da Polícia, o garoto continua em atividade: “Quando desaparece alguma coisa lá na minha região, os vizinhos já mandam lá pra casa”, lamenta. Os problemas afligem a mulher, que diz que tem vontade de morrer: “È muito fardo”, chora.

“Não quero mais” – Nas duas histórias, as mulheres afirmam que não querem mais os companheiros. Cida ficou satisfeita com a prisão do marido, diz que quer se separar, e que não volta mais. Ela diz que se arrepende de ter dado mais uma chance: “Fui errada”, confessa. E promete que a primeira providência será procurar o advogado e oficializar a separação: “Acabou o tempo da escravidão”, disse.

Na visão do delegado, a permanência no convívio com o agressor é um problema crônico. Para ele, a vítima de violência não deve acreditar nas palavras de perdão e promessas de mudanças dos agressores, já que a prática mostra uma realidade muito diferente: “A recaída acontece na maioria das vezes, quando a primeira recaída, a primeira fofoca, são suficientes para que a agressão ocorra novamente. A decisão precisa ser radical”, finaliza.

Nenhum comentário: