quarta-feira, 27 de junho de 2007

COMPARSA - Adolescente estelionatário não agiu sozinho

COMPARSA



Adolescente estelionatário não agiu sozinho


Ele contou com a ajuda de funcionário dos Correios, que trazia cartões e informações sobre futuras vítimas

ARARANGUÁ – Um metro e meio de pura safadeza. Esta é a impressão dos que conhecem a história de BTS, 15, acusado de estelionato, após ter sido abordado pela Polícia Civil num shopping em Criciúma, portando um cartão de crédito irregular, feito como adicional da correntista araranguaense BST, 58. O caso ganhou espaço numa matéria publicada ontem, no Jornal Correio do Sul, que mostra que o rapaz teria usado o cartão da vítima na compra de três capacetes numa loja de motos e abastecido em um posto de gasolina, gerando uma fatura de cerca de R$ 500.

A denúncia da vítima trouxe surpresas aos policiais que foram até a casa do menor, no bairro Mato Alto, e encontraram nada mais, nada menos que 15 cartões de crédito e de lojas em nomes de diversas pessoas, um caderno contendo informações sobre pessoas físicas e dezenas de documentos, como faturas e contas telefônicas, que teriam sido enviados pelo Correio, para diversas pessoas que nunca receberam as correspondências.

FIO DA MEADA – Ouvido na tarde de ontem pela delegada responsável pelo caso, Eliane Viegas, o menor, que estava acompanhado pelo irmão maior de idade, WTS, negou que roubasse as correspondências nas casas das vítimas, e disse que não agia sozinho. Ele contou que há cerca de um mês e meio, recebeu do amigo MPT (maior de idade), funcionário da agência dos Correios da Cidade Alta, a proposta: M conseguiria cartões de crédito e bancários, além de algumas informações sobre clientes, através do desvio de faturas e contas telefônicas na agência, e os entregaria ao menor, em troca da metade de tudo o que B. conseguisse. Segundo o menor, o amigo teria fornecido o material por cerca um mês, até perceber que ganharia pouco com o esquema: B. deu a M apenas um par de tênis durante o período.

ESQUEMA – Segundo o menor, o procedimento mudava segundo o material fornecido pelo colega dos Correios: se fosse o cartão, bastava desbloqueá-lo, utilizando os dados e a senha fornecida na própria correspondência. Além de desbloquear novos cartões e pedir adicional em antigos, o rapaz também passava tudo para o endereço de casa. Com os documentos e faturas fornecidas pelo comparsa, também solicitava cartões em nome das vítimas via telefone.

FRAGILIDADE – As chamadas eram feitas pelo próprio rapaz, mesmo em caso de vítimas do sexo feminino: “Eu disfarçava a voz, confirmava os dados, e pronto”, disse. Apenas uma das cerca de dez instituições financeiras procuradas pelo menor questionou o pedido, enviando uma correspondência pedindo maiores esclarecimentos. Mesmo com todas as facilidades, o rapaz afirma que tenha conseguido usar poucos cartões, sendo que a maioria estava com o limite estourado. Ele não sabe quanto teria gasto com os cartões que conseguiu usar, mas a Polícia sabe que as compras somam mais de R$ 1 mil.

CONTA EMPRESTADA – O cúmplice do menor nega qualquer envolvimento no caso. Diz apenas que conhece B, e que pediu, há um mês, uma conta corrente, já que tinha dinheiro para receber pelo banco. B então emprestou a conta da mãe de um amigo, pouco usada por ela, e segundo ele, sem que ela soubesse. O funcionário dos Correios passou a usar a conta para fazer depósitos. Na semana passada, a Polícia recebeu a denúncia da agência dos Correios da Cidade Alta sobre o furto de cheques que chegavam à agência. As investigações levaram a Polícia a apontar um funcionário como principal suspeito. MPT perdeu o emprego, já que os cheques desviados foram encontrados depositados na conta emprestada por B.


Delegada Eliane diz que será feita acareação entre menor e seu cúmplice

MENOR – B. já está respondendo na Justiça por ter feito um cartão de crédito adicional da conta da mãe, e foi denunciado por ela, há cerca de dois meses. Ele já passou por uma audiência, e a próxima está marcada para outubro. Com o flagrante de estelionato, a situação do menor se complica. Mesmo assim, por ser menor, ele responde em liberdade, e será julgado segundo o ECA, que não aprisiona o menor, mas oferece medidas disciplinares. Ele diz estar arrependido: “Nunca mais vou me meter numa encrenca dessas”, promete.

Já o ex funcionário dos Correios não terá a mesma sorte: maior de idade, ele continua em liberdade, já que não foi preso em flagrante. Mesmo assim, ele será julgado por furto e estelionato.


* Matéria editada no Jornal Correio do Sul em 27/06/2007

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