sexta-feira, 15 de junho de 2007

NADA MUDOU - Donos de terras do desvio da 101 continuam sem indenização

Donos de terras do desvio da 101 continuam sem indenização


Esta matéria, que fiz com meu colega Tiago (aí, rapaz!) na sexta-feira passada na comunidade de Operária, região agrícola de Araranguá, foi interessante: passamos por debaixo de uma cerca de arame farpado e outra eletrificada pra falar com seu Rei, um pouco desconfiado no início, mas depois super alegre e simpático. Aquele jeito dele e das pessoas de lá me fez pensar: até que ponto os governos podem interferir assim na vida das pessoas? E mais: os governos estão realmente compensando as perdas - ambientais e econômicas - de maneira justa? Para haver desenvolvimento, é necessário também garantir a integridade dos homens. Por isso, essa matéria, além de uma aventura passada durante a semana na minha profissão - tão deliciosa, cheia de coisas diferentes - foi também uma reflexão pra mim sobre os homens e suas histórias....

O Jornal Correio do Sul publicou esta matéria, com edições e acréscimos, nesta terça-feira (12)


NADA MUDOU

Donos de terras do desvio da 101 continuam sem indenização

Eles afirmam que não recebem resposta do DNIT há mais de um ano, e não foram convidados para audiência pública

ARARANGUÁ – A retomada dos trabalhos de duplicação da BR 101 no Lote 29, abraçada pela Construtora Triunfo e iniciada no último dia 22, retoma também a discussão sobre o desvio da estrada, que deve cortar comunidades rurais como Operária e Sanga do Marco, em Araranguá. Segundo a assessoria de Comunicação do Dnit (Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes), o contorno, que se estenderá a Oeste, do Km 409,2 ao 415,5, é garantido. Na audiência pública realizada em Içara, no dia 28 de maio, o superintendente regional do órgão, João José dos Santos, afirmou que a obra do desvio será feita em forma de elevado sobre pilares, o que agrada lideranças como o presidente da ong Sócios da Natureza, Tadeu Santos.

SEM INFORMAÇÃO – Esta, e qualquer outra informação sobre o desvio da BR 101, são conhecidas pelo agricultor Raimundo Machado, 68, o seu Rei, apenas pela imprensa. Assim como seus vizinhos, o proprietário de 11,5 hectares na Operária diz que não soube da audiência pública em Içara: “Nem eu nem ninguém aqui fomos convidados”, disse. Os três proprietários de terras indenizáveis da Operária esperam uma resposta do Dnit, desde que entregaram a papelada para a indenização, em março do ano passado. Seu Rei não sabe quanto o governo federal quer pagar pelas terras, e reclama que não pode fazer benfeitorias na casa onde mora o filho, e que será demolida para dar lugar à estrada.

“Ninguém nos procura há 1,3 ano”, lamenta o morador João Batista de Souza, 43, dono de terras indenizáveis na localidade. Assim como seu Rei, a estrada levará também a casa onde há 15 anos mora com a mulher e a filha. Ao contrário de seu Rei, ele sabe que as terras foram avaliadas em R$ 48 mil, e que a do pai, Manoel Zeferino de Souza, falecido recentemente, deve render R$ 28 mil.

Nelci Soares de Oliveira, 52, e o marido, têm pouco menos de um hectare a ser indenizado na obra do desvio da BR 101, avaliado em R$ 20 mil. Ela disse que um funcionário “que trabalha em Tubarão, chamado Nivaldo”, e que recolheu a papelada dos donos das terras, teria deixado o telefone, e que ela e o marido ligaram: “Ele disse que mudou a construtora, e por causa disso, esse ano não vai sair, e que a gente voltava a falar só no ano que vem”.

Para os moradores, os valores das indenizações devem ser rediscutidos. Segundo eles, a conversa com o Dnit prometia o pagamento para 120 dias, a partir de março.

Naquela comunidade, todos os agricultores preferiam não ter que deixar o lugar onde a maioria nasceu, cresceu e teve seus filhos e suas casas: “Me sinto mal, por mim eu não saía. Não tem graça ver derrubar o que a gente levou tempo pra construir”, lamenta João Batista, apoiado pelos outros moradores.

AUDIÊNCIA PÚBLICA

O Dnit ainda não promoveu nenhuma audiência pública em Araranguá para a discussão do traçado da duplicação da BR 101 na região, onde deve ser explicado o projeto do desvio, que afeta proprietários de terra como os descritos nessa reportagem. O presidente da Comissão de acompanhamento da BR 101, vereador Geraldo Mendes (PT) enviou requerimento ao superintendente, insistindo na realização da AP. O órgão deve dar uma resposta em breve. O vereador, que faz parte da Comissão do Meio Ambiente da Câmara, embarcou nesta terça-feira para Brasília, e junto com os vereadores Lourival João (PDT), o Cabo Loro, e Marco Aurélio Mota (PMDB), o Motinha, também integrantes da Comissão, discutem sobre a duplicação da BR 101 na região e a fixação da foz do Rio Araranguá. Segundo a programação, hoje os vereadores voltam à Araranguá.

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