segunda-feira, 18 de junho de 2007

Garoto do lixão - Jornal Correio do Sul faz série de reportagens para saber a história de Júlio César da Silva Santos, 16, que diz que morou no lixão


Garoto do lixão é acompanhado pelo CT desde os oito anos

Entidade diz que situação do rapaz sempre foi difícil, mas que ele nunca deixou de receber o apoio necessário

ARROIO DO SILVA – Na segunda-feira (11), o Jornal Correio do Sul trouxe como manchete a incrível história do garoto que morava no lixão do Arroio, Júlio César da Silva Santos, 16 (CS, 2.687, p.3). A reportagem sensibilizou muita gente e trouxe polêmica. A pedido dos cinco Conselheiros Tutelares do Balneário, Patrícia Machado Santos, presidente, 34, Claudete Lupin, 47, Luiz Carlos da Silva Martins, 39, Bernadete Francisco da Costa, 51, e Leide Machado Fernandes, 46, e da assessora do departamento de Assistência Social do município, Michele Victor Daufenbach, o Correio do Sul buscou investigar melhor a história, e vai mostrá-la numa série de reportagens. Confira agora a versão do Conselho Tutelar e da Assistência Social:




Desde os oito anos – Numa das salas da unidade de saúde ao lado do ginásio de esportes, os Conselheiros e a assessora mostraram uma pilha de documentos. Entre os papéis, a ficha de Júlio da primeira visita do CT à casa da família, em 27/01/99. As anotações mostram que o menino de oito anos estudava na 1ª série da EEB Apolônio Ireno Cardoso. Tinha piolhos, e a higiene era razoável: “A situação dele sempre foi crítica. A mãe era alcoólatra, e o padrasto também. Ele e os dois irmãos viviam sem eira nem beira, no meio da rua”, conta Bernadete, há 3,5 anos no Conselho. Moradora do Arroio há 20 anos, ela conhece o drama de Júlio há muito tempo, e diz que nunca faltou para o rapaz o apoio necessário: “O Conselho Tutelar e a Assistência Social sempre apoiaram este menino. O problema é que ele não pára em lugar nenhum”, lamenta.



Casa – Com a morte da mãe, em junho de 2005, rejeitado pela família e sem ninguém para obedecer, o menino largou a escola e passou a viver do que catava no lixo. Também pedia nas casas, cortando grama em troca de um prato de comida. Júlio possui todos os documentos: Certidão de Nascimento, Carteira de Identidade, CPF, Carteira de Trabalho, todos tirados pelos CT do Arroio do Silva e Timbé do Sul, onde também morou. Júlio sabe que tem um pai, Martins Genuíno Marcelo, com quem morou por um tempo, em Morro da Fumaça, e que descobriu em 2003. Não ficou por lá também. Depois de idas e vindas, ele voltou ao Arroio em setembro do ano passado. Em novembro, os Conselheiros e a assessora conseguiram para o rapaz uma moradia provisória, na sede da Ong, que estava invadida. Colocaram telhas, consertaram o espaço, deram roupas de cama, botijão de gás, colchão, utensílios domésticos e roupas para o menino usar. Também deram R$ 100 mensais em cestas básicas. No Natal, fizeram uma festa para ele, e deram presentes: “Eu me lembro, foi legal. Não nego que o Conselho Tutelar tenha me apoiado. Eles me conhecem mesmo há muito tempo”, confirma o rapaz, que admite também: “Eu abandonei tudo lá pra morar no lixão”. Segundo o rapaz, ele saiu do lugar porque estava tendo problemas com uma vizinha.




Família não querAs relações com a família de Júlio – uma avó materna, tios e um irmão maior de idade e casado – não facilitam a solução do problema do menor. Segundo os CT e a assessora, o Ministério Público conhece a situação há pelo menos dez anos, e não toma providências: “Algum membro da família deveria ficar com o rapaz, mas ninguém quer, e o MP não oferece solução”, reclamam. A casa provisória na ong também era um problema: “Recebemos muitas denúncias dos vizinhos sobre ajuntamento de pessoas. Também soubemos que ele distribuía a comida da cesta básica. Era muita responsabilidade manter o menor sozinho na casa, mas o mantivemos lá, esperando a solução da Justiça. Pouco tempo depois, ele abandonou o local”, conta a conselheira Leide Machado Fernandes, 46, que mora perto da ong invadida, e diz que nos quatro meses que o rapaz morou lá o visitava praticamente todos os dias. Em fevereiro de 2007, o CT e a assistência social enviaram o relatório para o MP sobre a situação do rapaz, mas até agora não receberam resposta.




Júlio também não quer morar com a família: “Prefiro morar no lixão”, diz o rapaz, que está alojado provisoriamente na edícula da casa da moradora do Balneário, Vidercina do Passo Padilha, a Vida. Ela encontrou o rapaz quando vivia no lixão com os pés cheios de bichos e o levou para casa, há dois meses. Para ele, a ajuda representa uma oportunidade que ele não quer largar: “Agora quero um emprego, voltar a estudar. Tudo o que quero é ajeitar minha vida”, finalizou o rapaz.


Conselheiros mostram papelada de Júlio, e reclamam da demora de uma solução por parte do Ministério Público



*Matéria publicada, com alterações, no Jornal Correio do Sul de 18/06/2007

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