terça-feira, 19 de junho de 2007

COMPORTAMENTO - Mães Menininhas

COMPORTAMENTO

Mães Menininhas

Elas trocaram as bonecas e a balada pela gravidez na adolescência, e mesmo assim, são felizes

ARARANGUÁ – Os índices são alarmantes: segundo o Ministério da Saúde, 20% dos partos ocorridos na rede pública de saúde brasileira acontecem com adolescentes entre 10 e 17 anos. E mais: estudo multicêntrico sobre Jovens, Sexualidade e Reprodução no Brasil, realizada pelas universidades federais da Bahia (UFBA) e do Rio Grande do Sul (UFGRS) e pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), mostra que a gravidez antecipada é recorrente entre jovens com menor escolarização e baixa renda. Em Araranguá, não é diferente.

O Correio do Sul conversou com três adolescentes, uma que está grávida, e duas que já ganharam bebês para saber o que mudou em suas vidas com a maternidade.

Orgulhosa da barriga de oito meses, Tatiele Custódio Zeferino Borges, 14, aguarda a chegada de Dierles, um menino que ela imagina lindo e saudável. A garota engravidou aos 13 anos, depois de namorar por dois meses com o atual companheiro, Diego Zacarias, 18. Os dois estão vivendo na casa da mãe de Tatiele, Euraclides, 55. Para a mãe, que casou aos 39 anos e teve a filha dois anos depois, a gravidez precoce preocupa, mas não assusta: “Temos que aceitar tudo, enfrentar o que vem, as coisas acontecem com a gente, mesmo quando a gente não quer”, disse. A menina, que estudava na 7ª série, parou os estudos para se dedicar a gravidez. O pai da criança assumiu a relação, mas está desempregado. De origem humilde, a família está contente com o novo membro: “Tive medo de ganhar o filho no começo, mas agora estou feliz”, diz a menina. Segundo a adolescente, todo o enxoval será dado pela madrinha, Maria. Mas a mãe teme: “Está perto de ganhar, e aqui em casa não chegou nenhuma fralda”. A filha diz estar tranqüila, mas a mãe afirma: “Qualquer ajuda é bem-vinda”.

Não muito longe dali, na Cohab 2, vive Samara Borges Elias, 16, que engravidou aos 15 anos, e há um mês, deu a luz a Marlon, no Hospital Regional de Araranguá, de parto normal. Ela e o marido, Gilberto, 17, vivem numa casinha construída no fundo da casa da mãe dele, Nadir Cardoso, 37. Samara e Gilberto já eram casados há três meses quando veio a notícia da gravidez: “Eu estudava no CEJA, e tive que parar, porque era muito longe. Mas estou feliz”, disse. Para a menina, muita coisa mudou na vida: “Tenho mais compromissos. Balada? Nem pensar”. Segundo ela, a mãe também engravidou cedo, aos 19 anos. Para a sogra, sobra responsabilidade: “Ela ainda não sabe muito bem como lidar com o Marlon, por isso, estou sempre por perto”. A menina garante: “Eu não conseguiria se não fosse ela. Tenho muito o que aprender”. Mesmo assim, ela acredita que voltar para a escola é essencial: Gilberto trabalha de servente, mas ela acha que com o estudo, pode garantir um futuro melhor para o filho.

Diandra de Souza Correia, 16, terá um longo percurso como mãe adolescente: a filha Pâmela, de quatro meses, nasceu com sopro no coração e tem Síndrome de Down. Ela e o companheiro, Delécio Silveira, 18, moram com a mãe dela, Celonice, 36, numa casa humilde.A menina parou de estudar, não sai e não vai a festas, mas mesmo assim, está contente, apesar de depender muito da mãe para cuidar da filhinha: “Uma vez por mês, vamos a Florianópolis, onde a Pâmela é tratada. Ela também faz fisioterapia, e toma um monte de remédios todos os dias. O tio da criança e irmão de Diandra, Iago de Souza, 15, confirma: “Se não fosse a mãe, ela não conseguiria”. Para a mãe adolescente, prever o futuro da pequena Pâmela não é fácil: “Sei que o desenvolvimento dela será diferente, e ela sempre precisará de cuidados. Mesmo assim, acho que ela foi uma bênção na minha vida”, finalizou.

As três adolescentes entrevistadas provém de famílias humildes, e nenhuma foi repreendida ou rejeitada pelos pais quando a gravidez foi descoberta, pelo contrário: todas recebem o apoio da família.

Elas sentem falta da liberdade e dos amigos, mas dizem estarem felizes. Mesmo assim, não aconselham a gravidez antes da hora, nas palavras da próxima mamãe, Tatiele: “Primeiro tem que aproveitar a vida, terminar os estudos, para depois ter um filho. Eu não fiz assim, mas assim é o ideal”, finalizou.


Números interessantes da Gravidez na Adolescência, segundo a psicóloga Maria Joana Siqueira:


Porcentagem de grávidas entre 16 e 17 anos
84%

Primigestas (primeira gestação)
75%

Freqüentaram o pré-natal
95%

Tiveram parto normal
68%

Menarca (1a. menstruação) entre os 11 e 12 anos
52%

Não utilizavam nenhum método contraceptivo
56%

Usavam camisinha às vezes
28%

Utilizavam a pílula
16%

A primeira relação sexual ocorreu*:

até os 13 anos
10%

entre 14 e 16 anos
27%

entre 17 e 18 anos
18%

entre 19 e 25 anos
17%

depois dos 25 anos
2%

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